quinta-feira, 5 de março de 2009

Capítulo Dois – Entre sonhos e confissões

Marina sempre teve um certo complexo de inferioridade, mas com o passar do tempo estava superando isso. Ela nunca notou nenhum garoto interessado nela, nunca pensou em si mesma como a mais bonita da sala, nunca foi a mais popular, mas suas amigas sim, essas eram sempre as mais bonitas, as mais desejadas, as mais populares. Isso a incomodava.

Ela era uma menina tímida, mas aos poucos ia ganhando segurança e se soltando cada dia mais. Esse comportamento fazia dela uma garota frágil, não fraca, ela era uma menina muito forte, não no sentido literal, mas ainda assim, frágil. Se iludia facilmente, acreditava em tudo que diziam a ela, consequentemente se machucava muito. Ela sempre estava apaixonada por alguém. Não que esse alguém soubesse disso. Mas ela sempre conservava amores platônicos, geralmente um a cada ano. Quando ela percebeu que isso era só coisa de criança, que nunca a levaria a nada, apenas a chorar por alguém que nem ao menos sabia que ela existia, ela resolveu que nunca mais ia se apaixonar, que amar alguém era só pedir pra sofrer. Ela até que tentou viver dessa nova forma, mas foi naquele dia que tudo mudou sem ela perceber.

Desde que se entendia por gente, Nina tinha o sonho de tocar guitarra. Ela ficava fascinada cada vez que ouvia o som de uma. Ela já tinha pedido uma guitarra pra sua mãe, mas a mãe sempre dava uma desculpa e nunca a comprava, e quando se falava em aprender a tocar, sempre o mesmo discurso:

- Pra quê? Você não tem uma guitarra ainda, quando eu comprar uma, eu te ponho num curso. – dizia a mãe de Nina.

E assim o tempo passava e esse dia nunca chegava.

Já era de tarde, e Nina já estava em casa, sozinha. Ela costumava passar a tarde inteira sozinha, sua irmã só saia da creche às 17h e sua mãe só chegava depois das 19h, junto com o seu padrasto. Sem nada pra fazer, e mesmo que tivesse, não estaria fazendo, Nina estava deitada em sua cama, deixando seus pensamentos rolarem. O som estava ligado num volume baixo, apenas um fundo musical, onde tocava “I miss you”, de Blink 182, uma banda que ela gostava. A primeira coisa que veio em sua cabeça foi o tal menino de vermelho. Por que ela estava pensando nele? Nem o conhecia. Mas algo nele deixava um ponto de interrogação na mente de Nina.

O dia passou sem nada de extraordinário. A maioria do tempo a mente de Nina vagava pelo campo desconhecido que era o tal menino. Ela fez o que tinha de fazer em casa, ligou um pouco o computador, depois foi buscar sua irmã na creche e se apressou na volta pra não perder o começo de Malhação. Ela era viciada em Malhação. Cuidou de Renata até que sua mãe chegou, depois voltou ao computador. Anoiteceu rápido, e Nina já não tinha mais nada o que fazer. Depois de tomar café, ela resolveu ir se deitar, afinal, tinha que acordar cedo no outro dia.

A rotina da manhã foi a mesma, e ao chegar ao colégio, Nina foi direto pra sala, pois o sinal já tinha tocado. A sala já estava quase cheia, e o lugar perto de Ana já estava ocupado pelo tal garoto que era um ponto de interrogação para Nina. Ela se sentou perto de Patrícia, com quem começou a conversar.

- Oi, você é a Patrícia, né? – perguntou Marina, pensando “Que belo jeito de começar uma conversa!”

- Sou. E você é a Marina! – disse Patrícia.

- É. Você já estudava aqui? – perguntou Marina.

- Já, só que eu estudava de tarde. – respondeu Patrícia.

- Conhece alguém daqui?

- Um pouco, tem gente que era da minha sala do ano passado. – disse Patrícia.

Elas continuaram com uma conversa sem rumos muito certos, apenas se conhecendo. A professora entrou na sala, a aula que teriam era Inglês e o nome da professora era Vanda. Era a primeira vez em que a chamada estava sendo feita, no dia anterior eles apenas assinaram uma folha de papel. Essa era a chance de Marina descobrir o nome do tal garoto. Ela estava tentando prestar o máximo de atenção, apesar das conversas na sala, e acompanhar quem respondia a cada nome chamado. Os nomes iam sendo chamados, e ele nunca respondia, até que a professora chamou: Lucas. E ele respondeu com um simples “Eu”. Então esse era o nome dele. Lucas. Ela não prestou atenção em mais nenhum nome, respondeu ao chamado do seu nome por costume. Repetia silenciosamente em sua mente: Lucas.

Ele não era o tipo “Deus Grego” por quem Marina costumava se interessar, mas também não era de se jogar fora. Era moreno, um tanto mais alto que ela, um garoto normal. Ele estava conversando com um outro menino, de quem Marina não lembrava direito o nome, Luan, ou talvez Luis, ela não prestou atenção, quando a professora interrompeu:

- Lucas, você ainda ensina a tocar violão? Meu filho queria aprender.

Ao ouvir as palavras “Lucas” e “violão” numa mesma frase, Marina se virou instantaneamente para observar Lucas. Ele respondeu:

- Sim, é só ver um horário!

Marina quase não conseguia acreditar. O menino que tanto lhe chamara a atenção seria a chave para realizar o sonho dela. Aprendendo a tocar violão, era um passo para a guitarra. Ela decidiu que falaria com ele.

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