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segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Continuação do Cap.12 e Cap.13

Como aqui tem mais seguidores, resolvi continuar a história aqui e no novo endereço.
Acompanhem o novo formato no blog "O Que Hoje Você Vê"

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Continuação Capítulo Doze - Cicatriz

Já não era a primeira vez que Lucas acabava na sala da coordenação, e dessa vez ele foi avisado de que se continuasse assim, teriam de tomar medidas drásticas como além de chamar-lhe os pais, uma possível mudança de turno. Portanto teria que “andar na linha”. Marina ficou realmente preocupada com isso, pois se caso ele mudasse de horário, ela praticamente não o veria mais, e ela não sabia o que seria dela sem vê-lo quase todos os dias.

Marina e Patrícia entraram na sala e se explicaram com a professora, que entendeu perfeitamente, e pediu-lhes que isso não voltasse a se repetir, e que acompanhassem a aula em silêncio. E foi isso que elas fizeram. Lucas não entrou na última aula, nem Eduardo. Ao final da aula, Marina estava ansiosa para falar com Lucas, mas não o viu.

Quando se gosta de alguém, se quer o melhor pra esse alguém, e era assim que Nina se sentia em relação a Lucas. Ela se preocupava muito com ele, e não gostava nem de pensar na idéia de não vê-lo no colégio.

Naquela mesma semana, Salete, tia dela, pediu que ela cuidasse de seus dois filhos menores, Aline, de três anos e Alexandre de um ano, enquanto ela estivesse fora, já que Amanda, sua outra filha estudava na parte da tarde e não poderia cuidar deles. Marina, que não fazia nada mesmo no período da tarde, aceitou. Além do mais, lá era bem perto da casa de Lucas.

Então, Marina começou a cuidar das crianças todos os dias, não era por muito tempo, apenas três horas por dia, das 14h às 17h, quando ela saia para buscar sua irmã, Renata, na creche que também era ali por perto. Nina sai do colégio, almoçava, fazia suas lições, dava uma arrumada na casa e, às 13h50 saia de casa. O caminho era curto, e ela resolveu que sempre iria pelo caminho da avenida, que era por onde ela passaria na frente da casa de Lucas. No primeiro dia em que ela foi cuidar das crianças, ela não encontrou Lucas sentado na pequena mesa branca que ficava do lado de fora da lanchonete, como ela havia imaginado. Isso a decepcionou um pouco, pois ela queria encontrá-lo, queria falar com ele, ele estava muito sumido no colégio, faltando muito e, quando ia, saía mais cedo. Talvez se ela o encontrasse, poderia saber o que de fato estava acontecendo. Mas não foi daquela vez.

Cuidar de Aline e Alexandre não foi nada difícil, uma vez que quando Nina chegava a casa, Alexandre estava dormindo – e permanecia assim até próximo ao horário em que a mãe dele chegaria – e Andressa ficava assistindo a DVDs – o que fez Marina decorar os filmes: “Por água abaixo”, “Madagascar”, “Alladdin”, “Mulan”, entre várias outras histórias infantis. O tempo passava rápido, e logo era a hora de buscar Renata e ir para casa. Às vezes, Salete demorava um pouco mais e, quando buscava Amanda na escola, buscava também Renata na creche. Em ocasiões como essa, Marina ficava até mais tarde na casa de Salete, pois Amanda gostava muito dela e não a deixava ir embora até que estivesse realmente muito tarde para que ela ficasse acordada.

Assim que descobriu que Marina e Lucas se conheciam, Amanda começou a contar a todos que eles eram namorados, que Nina era apaixonada por ele, que eles iam se casar, e várias outras coisas do gênero. Não que ela não gostasse de ouvir isso e que não quisesse que fosse verdade, mas também ela não precisava anunciar. Amélia, mãe de Nina, começou a implicar com ela em relação a isso, acreditando em parte das coisas que Amanda dizia. Marina negava, afinal não era mesmo verdade, pelo menos não tudo.

Certa vez, depois de passar uma tarde quase inteira cuidando das duas crianças, Marina estava saindo da casa de sua tia para buscar sua irmã, e quando, automaticamente, olhou para a lanchonete, que ficava logo na esquina, viu que Lucas estava lá. Ela foi andando rápido para pegar Renata na creche o quanto antes e decidiu que iria para casa passando pela casa de Lucas. Era bem mais longe, mas talvez valesse a pena. Ele ainda estava lá, sentado em uma cadeira branca de plástico encostada na parede da lanchonete, com uma calça jeans, camiseta azul-claro, all-star azul, um boné preto e um óculos escuro, observando a rua – não havia movimento na lanchonete. Os raios solares de um quase pôr-do-sol faziam um jogo de luz e sombras em sua face, que era simplesmente fascinante. Em um movimento rápido, como se soubesse quem estava se aproximando, Lucas virou o rosto na direção de Marina, a viu e sorriu aquele sorriso que ela mais gostava. Ele se levantou e esperou por ela, que estava a poucos metros. Ela chegou e o cumprimentou com um beijo no rosto.

- Oi Lucas!

- Oi Nina! Oi menininha que eu não lembro o nome! – ele riu.

- Renata. Diz oi pro Lucas, Rê.

- Oi. – disse Renata, tímida.

- E aí, tudo bem? – perguntou Marina.

- Aham. E você?

- Também, também... Só na vida boa aqui?

- Pois é, só aqui admirando a paisagem. – ele sorriu novamente, deslumbrando-a.

- Não vai mais pro colégio, não?

- Vou sim. É que eu tinha que resolver algumas coisas, mas acho que segunda-feira eu vou.

- Sei. Sério, faz falta você lá. – Marina ficou vermelha.

- Nina, eu quero sorvete. – Renata interrompeu. “Salva pelo gongo”, Marina pensou.

- Renata, não! Hoje não dá.

- Sorvete de quê que você quer? – perguntou Lucas à Renata.

- De abacaxi. – respondeu ela.

- Lucas, deixa. Depois ela esquece, eu to sem dinheiro aqui.

- Depois a gente vê isso, agora deixa ela tomar o sorvete.

Ele caminhou até o interior da lanchonete, e pegou um sorvete de abacaxi para Renata.

- Ninguém merece você, hein Renata?!?! – Nina sussurrou.

- Mas eu queria sorvete! – ela disse.

- Pronto. Toma o seu sorvete. – Lucas entregou o sorvete nas mãos de Renata.

- Como que se fala, mocinha? – perguntou Nina a ela.

- Obrigada. – disse Renata.

- De nada! – Lucas respondeu.

- Lucas, é sério, não precisava.

- Depois a gente acerta. E eu vou cobrar. – ele parecia malicioso.

- Vai amanhã pro colégio? – Nina perguntou.

- Amanhã é sexta-feira, já que faltei praticamente a semana inteira, acho que não vou amanhã não.

- Você quem sabe. Então, até depois. – ela se despediu.

- Até amanhã. E tchau Renata!

- Amanhã?

- Tchau. – Renata respondeu, tomando seu sorvete.

- É. Você não vai na casa da sua tia amanhã?

- Sim, vou. Então, ok, até amanhã. – e foi dar um beijo em seu rosto novamente. Ele, propositalmente ou não, virou um pouco o rosto, fazendo-a quase beijar-lhe os lábios. Ela apenas virou as costas e saiu. Uns quatro passos à frente, ela se virou para olhá-lo, ele também a estava olhando e sorrindo. E como se não fosse muita novidade, tudo o que Marina podia pensar depois disso, era apenas ele: Lucas. Como ele fazia isso? Hipnotizá-la de tal maneira?



Capítulo Treze - Erros em Comum

No caminho pra casa, Marina estava completamente deslumbrada, mal conseguia se concentrar em Renata, andando perto dela com seu grande sorvete de abacaxi nas pequenas mãos. Mas ela precisava sair do transe, não podia se descuidar da irmã, elas estavam em uma rua movimentada e Renata é muito pequena ainda para cuidar de si.

- Era só o que me faltava, hein mocinha? Que folga...

- Eu já disse, Nina, eu queria sorvete.

- Mas eu não tinha dinheiro pra comprar, é feio fazer assim.

- Mas o teu namorado me deu.

- O Lucas não é meu namorado, Renata! – “infelizmente”, ela completou mentalmente. – Ele é só meu amigo, lá do colégio.

- Tanto faz, ele me deu.

- Não é pra fazer isso de novo, ok?

- Por quê?

- Porque não, Renata! E toma logo esse negócio que tá derretendo, vai fazer uma meleca.

- Tá bom, tá bom.

Não demorou muito para que elas chegassem em casa. Renata havia se sujado com o sorvete, e Marina a pôs pra tomar banho. Enquanto isso, ela deitou em sua cama e ficou olhando a parede. A persiana estava entreaberta e passavam alguns raios do pôr-do-sol, e faziam desenhos alaranjados na parede. Ela pensava “nele”, como ele era tão amável às vezes, tão querido... Lembrou da frase que ele disse: “E eu vou cobrar”.

- Com aquela carinha de “anjo”, será que ele estava falando de dinheiro? – Nina disse, em um tom quase inaudível. – Só pode, afinal... Acorda menina! No que você tá pensando? Ele nunca ia querer nada comigo...

- Niiiiiiiiiiiiinaaaaaaaaa! Acabei. – Renata gritou do banheiro.

- Já vou! – ela respondeu à irmã com um grito, e disse pra si mesma em um tom mais baixo: - Deixa prá lá, não seremos mais que amigos... Infelizmente. Ok passou. – ela murmurou, e gritando para Renata, disse: - Já to indo Re, desliga o chuveiro.

O final da tarde passou rápido, assim como a noite que se aproximava. A rotina na casa de Marina era sempre a mesma: Seus “pais” chegavam, eles faziam um lanche, assistiam um pouco de televisão e dormiam, às vezes Nina ficava acordada um pouco mais, na internet.

Na manhã seguinte, ela acordou no mesmo horário de sempre, às 6h, tomou um banho rápido para não perder tempo, colocou seu uniforme e terminou de se arrumar. Enquanto isso, seu padrasto, Roberto, preparava o café da manhã. Assim que terminou de se arrumar, Nina tomou rapidamente seu café e se apressou em trocar Renata, pois já estava quase na hora de saírem. Ela estava certa de que não encontraria Lucas pelo caminho, pois ele mesmo havia dito a ela que não iria ao colégio naquele dia.

Marina deixou Renata na creche e foi para o colégio a passos lentos, pois tinha tempo suficiente para chegar lá sem precisar “correr”. Ela estava alheia aos movimentos na rua, e despreocupadamente procurava em sua mochila seu mp3player, encontrou-o e colocou pra tocar “The Take Over, The Break’s Over” de Fall Out Boy. Ela estava distraída, concentrada apenas na música que ouvia e no caminho que tinha que seguir, e não prestou atenção quando passou na frente da casa de Lucas, como costumava fazer. Ele estava saindo de casa, indo para o colégio também, contradizendo o que havia dito à Nina. Lucas chamou por ela, mas ela não ouviu. Ele apressou seus passos, alcançando-a facilmente, já que ela estava andando mais devagar que o normal. Ele a segurou pelo braço, assustando-a um pouco. Ela tirou um de seus fones do ouvido, e olhou para ver quem era. Um sorriso surgiu em seu rosto quando ela viu que era Lucas.

- Me espera! Eu te chamei, mas você não me ouviu. – ele disse soltando seu braço.

- Desculpa, eu tava ouvindo música. – ela apontou o fone de ouvido agora em sua mão enquanto parava a reprodução da música. – Mas, você não disse ontem que não viria para a aula hoje?

- Mudei de idéia. Posso ir com você?

- Cla- Claro. – ela gaguejou. – Vamos.

- Que aula que tem hoje? To sem o horário... – ele começou conversar com ela.

- Também, é turista no colégio. Na sala eu passo pra você, não vou tirar meu caderno agora da mochila...

- Ok. Então, o que você tá ouvindo ai?

- Ahn. Agora nada. Antes era Fall Out Boy.

- Posso ouvir com você?

- Ok. – ela lhe entregou um dos fones, e apertou o ‘play’ novamente. – Desculpa pela minha irmã ontem.

- O que? – ele parecia não ter ouvido direito. – Repete o que você disse.

- A minha irmã, ontem. Quanto eu te devo?

- Ah, imagina. Por enquanto, nada. – ele sorriu.

- Como assim, por enquanto?

- Deixe quieto. Que músicas mais você tem ai? – ele mudou de assunto.

Eles foram juntos para o colégio, conversando aleatoriamente. Chagando lá, separaram-se e foram cada um ao encontro de seu grupo de amigos. Logo bateu o sinal, anunciando a hora de entrar nas salas, e Marina e suas amigas Patrícia e Fernanda, entraram. Ao entrar, ainda havia muita gente fora da sala e o professor que daria a primeira aula, Airton, de Física, ainda demoraria um pouco pra chegar, então elas puderam conversar um pouco.

- E o Lucas? – começou Fernanda.

- O quê?

- Estão juntos ou...?

- A gente?

- Dá pra parar de me responder com perguntas Marina?! – Fernanda subiu um oitavo seu tom de voz.

- Ok, ok, calma. – respondeu ela, sorrindo. – Não, não estamos juntos! Todo mundo deu pra falar isso agora...

- Mas eu vi vocês chegando juntos no colégio... – Patrícia disse.

- É, a gente veio junto, mas não tem nada de mais.

- Pessoal, vamos sentar. Luis sai da porta e vai pro seu lugar. – o professor havia chegado à sala de aula e tentou colocar alguma ordem na turma, coisa que não conseguiu, como sempre. Pelo menos Marina e as meninas pararam de conversar e tentaram prestar atenção na tentativa de aula de Física que teriam naquele horário. Lucas não entrou na sala nessa primeira aula nem nas duas seguintes que antecediam o intervalo. “Se é pra não entrar em nenhuma aula, pra quê acordar cedo e vir pro colégio?”, pensou Nina, “Se fosse eu, eu nem viria. Ainda bem que eu não sou ele.”

Durante o intervalo, ela não viu Lucas em lugar nenhum, apesar de saber, de alguma forma, que ele ainda estava no colégio. Patrícia, que estava andando com ela, como de costume, percebeu que ela estava procurando por ele, mas não disse nada. Os vinte minutos do intervalo passaram incrivelmente rápido e, ao voltar para a sala, Marina esperou ansiosamente por Lucas na porta. Mas ele não foi pra sala.

Ela já estava preocupada. Será que tinha acontecido alguma coisa? Ou era só ele matando aula descaradamente? Ela preferiu acreditar na segunda opção, que certamente era a correta. Fernanda percebeu a aflição de Marina e foi conversar com ela.

- Nina, tá tudo bem?

- Oi? Ah, é, tá, tá sim. Por quê?

- Você tá esquisita.

- Eu sou esquisita, Fernanda.

- Err... eu sei que você é, mas agora você tá mais. Aconteceu alguma coisa?

- Acho que não.

- Hmm...

- Você viu o Lucas na hora do intervalo?

- Ah... o Lucas??? – ela perguntou, um grande sorriso brincando em seu rosto.

- Só responde, Fernanda!

- Vi de longe só, ele tava lá pra cima, perto do bloco A, com uns amigos dele.

- Ele não entrou em nenhuma aula.

- É mesmo, não sei por que veio pro colégio.

- Precisava falar com ele, mas...

- Ah... vocês dois.

- Não enche, Fer!

As duas últimas aulas demoraram como séculos a passar. Marina estava quieta, pensativa, mal prestou atenção na matéria dada. Várias vezes Patrícia e Fernanda a chamaram, mas ela ignorou, não por falta de educação, apenas não estava ali as ouvindo. Ela até queria ouvir músicas em seu mp3player, não faria muita diferença, pois não estava prestando atenção em nada mesmo, mas no colégio era proibido qualquer tipo de eletrônico.

O sinal tocou anunciando o término das aulas naquela manhã, Nina guardou suas coisas, encontrou o player dentro da mochila, guardando-o no bolso de seu casaco. As meninas a esperavam impacientes na porta da sala. Nina ajeitou sua mochila nas costas, colocou o fone no ouvido, apertou o play em “Sempre Quis” da banda Strike e colocou o capuz de seu casaco. Saiu da sala a passos lentos, acompanhando Patrícia. Fernanda e Mily iam na frente.

Já fora do colégio, próximas ao portão, elas se despediram, e Nina seguiu em direção à sua casa. Pouco mais de quatro passos à frente, se surpreendeu com Lucas andando ao seu lado. Ela novamente tirou um dos fones do ouvido e parou a reprodução da música para falar com ele.

- Você por aqui? Pensei que tinha ido embora...

- Não, eu tava aqui te esperando.

- Hum... não ficou no colégio?

- Fiquei.

- Mas por que não entrou nas aulas?

- Ir pro colégio é uma coisa, ter aula é outra bem diferente.

Lucas estava claramente diferente. Parecia mais “alegre” que o normal, fora de seu juízo perfeito, se é que ele tinha algum.

- Você tá bem? Tá esquisito...

- Eu? Eu to ótimo!

- Tá. Vou fingir que acreditei. O que você ficou fazendo a manhã inteira no colégio sem entrar em nenhuma aula?

- Tava lá com uns amigos meus zoando um pouquinho.

- Mau-caráter! – ela fez cara de desapontada, brincando.

- Eu sou anjo! – ele juntou as mãos, como em uma oração.

- Com certeza! São Lucas!

- Viu? Eu disse... – ele deu o seu sorriso preferido, e ela não pôde deixar de sorrir de volta.

- Eu tenho que ir embora, você vai descer a rua?

- Não, eu vou com você. Posso?

- Claro... então vamos.

- Você não tá no seu juízo perfeito, né?

- Claro que eu to, to do lado de uma menina linda. – ele sorriu de novo.

- Engraçadinho! Sério, o que você tava fazendo no colégio?

- Só umas coisinhas, nada de mais.

Ele passou um braço pelas costas dela, andando abraçados. Os amigos dele que caminhavam logo atrás deram gritos de incentivo. Marina começou a perceber que algo estava errado, pelo menos pra ela, e tirou o braço dele de trás de suas costas, mas ainda permanecendo bem próxima a ele.

- O que seus amiguinhos estão gritando ali atrás?

- Nada não, nem ligue pra eles. – Lucas olhou disfarçadamente para trás, aparentemente pedindo que se calassem.

- Sei...

Ela novamente a abraçou, e os meninos gritaram novamente. Dessa vez, ela conseguiu entender o que um dos garotos disse, “Beija logo, Lucas!”, e não gostou nem um pouco do que ouviu. Ela deduziu rapidamente que Lucas queria ficar com ela apenas para mostrar aos amigos, e tentou se afastar dele novamente, mas dessa vez ele a segurou pela mão, entrelaçando os dedos. De fato, era uma sensação boa, mas a situação não era nem um pouco agradável. Ele estava ali só para exibir ela, como um prêmio qualquer.

O ponto em que teriam que se despedir havia chegado. Ela tentou soltar sua mão, mas ele a virou de frente pra ele e segurou sua outra mão. Ele aproximou seu rosto para beijá-la, mas ela se afastou dizendo: “Tchau Lucas”. Ele não parou, e a abraçou, deixando-a presa em seus braços, ainda tentando beijá-la. Ele murmurou:

- Eu disse que ia cobrar.

- Não é assim que você vai conseguir alguma coisa. Me larga. – disse Marina, tentando se soltar.

- Vamos, é só um beijo.

- Não Lucas! Me solta!

- Eu não vou te soltar.

A cena em si começou a chamar a atenção das pessoas em volta. Marina ficou envergonhada.

- Lucas, é sério, me solta. Segunda-feira a gente conversa, tá? Quando você tiver normal.

- Você ainda tá me devendo. – ele disse soltando-a e tentando mais uma vez beijá-la, enquanto seus amigos observavam do outro lado da rua. Ela virou o rosto e ele deu um beijo em sua bochecha.

Carol, que passava por ali naquele exato momento, parou para falar com Marina.

- Nina, o que aconteceu?

- Ai, o Lucas que não tá bem e tentou me agarrar. Menino doido.

- Marininha arrasando corações!

- Quem dera... deixa eu ir que eu já demorei demais aqui. Até segunda, Carol.

- Tchau Nina.

Marina seguiu para casa, hiperventilando. Ela estava furiosa com Lucas por ter agido daquela maneira, mas mesmo assim ela havia gostado da sensação. “Por que ele fez isso comigo? Se não fosse aqueles malditos amigos dele! Não... eu simplesmente não podia me vender por tão pouco! Aposta com os amigos? Era só o que me faltava. Por que eu gosto tanto desse menino?”, pensava ela.

Chegando em casa, Nina tirou os tênis e a mochila e se jogou na cama, ficando assim por muito tempo só pensando em como poderia ter aproveitado da situação pra ficar com o menino por quem ela era completamente apaixonada, e se arrependendo de não ter o feito. Mas agora já foi, será que haveria outra oportunidade?


quarta-feira, 6 de maio de 2009

Capítulo Doze - Cicatriz

Na maioria do tempo em que estavam relativamente juntos, Lucas e Marina pouco se falavam. Às vezes isso era bom, às vezes não. Mas também havia as vezes em que Lucas tentava se aproximar dela, mas ela tinha muito medo de voltar a se envolver, porque coincidentemente isso sempre acontecia quando ela estava conseguindo não pensar tanto nele, e ela sabia que, se caso retribuísse de imediato às investidas de Lucas, certamente o dia seguinte não seria um bom dia, que ele não daria a mínima atenção a ela, que só seria mais um dia triste. Talvez ela só estivesse sofrendo por antecedência, mas ele estava sempre tão perto e tão longe, e experiências passadas deixavam bem claro como ele agiria.

Lucas estava muito desleixado com os estudos nos últimos dias, sempre faltando às aulas, e quando comparecia ao colégio, não entrava em nenhuma aula, andava esquisito. Marina não gostava de vê-lo assim, ela se preocupava com ele, sabia que agindo assim poderia perder o ano, o que não era nada bom pra, já que era repetente, mas ele nunca levava a sério as preocupações dela, quando, ocasionalmente ela falava algo sobre isso.

Certa vez, durante um intervalo, Marina e Patrícia estavam andando juntas pelo pátio do colégio, como de costume. Lucas estava com alguns amigos na quadra, só havia comparecido à primeira aula daquele dia, e não pretendia entrar nas duas últimas, que eram ambas de Português. O sinal havia tocado, e os alunos tinham um tempo de cinco minutos de tolerância para entrar nas salas. Estava um grande tumulto de alunos nos corredores, e Marina e Patrícia estavam perto da entrada do prédio A, que ficava no extremo inverso do prédio onde era a sala delas, que ficava no prédio D, logo teriam que passar por todos os alunos, seguindo em uma quase ‘contramão’. Patrícia, para se apressar, segurou Marina pelo braço e foi na frente, passando por entre os alunos, e puxando Marina consigo. De repente, Marina chocou-se com um garoto que passava no mesmo momento em que Patrícia a puxou, o que a fez se desequilibrar e cair ao chão, machucando as mãos.

Patrícia ajudou-a a se levantar e foram até a cozinha do colégio, onde Marina lavou as mãos enquanto Patrícia pedia para a senhora que cuidava da cozinha uma pedra de gelo. Já havia se passado dez minutos desde que o sinal batera logo elas não poderiam entrar na sala. Elas saíram da cozinha, caminhando em direção à quadra do colégio, que era o único lugar onde elas poderiam ficar, já que não haviam avisado nem a professora nem a nenhuma pedagoga o motivo pelo qual não haviam entrado na sala. Marina segurava o gelo junto ao corte que havia feito em sua mão direita, próximo ao polegar, não adiantava muito, mas pelo menos amenizava a dor.

Entraram distraidamente na quadra, onde várias turmas estavam tendo educação física. Passaram pela primeira quadra, e estavam indo sentar-se à grama que dividia as duas quadras que ali ficavam. Marina não estava muito contente com a idéia de estar fora da sala durante uma aula, com todo o seu material dentro da sala, e se deu conta que estaria perdendo duas aulas, considerando que eram as duas da mesma disciplina, e certamente não as deixariam entrar. Essa sua preocupação se amenizou, assim que chegaram à grama, e viram, no canto esquerdo da quadra, sentado em um banco improvisado, com mais um colega de sua turma, Lucas, que como Nina já imaginava, não havia entrado na sala. Ela e Patrícia foram lá com eles, Lucas e Eduardo. Lucas estranhou vê-las fora de sala e perguntou:

- Vocês aqui? A professora não veio?

- Não, ela ta lá na sala, é que a gente não entrou. – Patrícia respondeu.

- Por quê?

- É que, sabe, eu derrubei a Marina! – Patrícia disse rindo, e apontando para Marina, que ainda segurava a pedra de gelo sobre o corte.

- Nossa! Como você conseguiu isso? – Lucas perguntou, divertido com a cena.

- Não é muito difícil, ela é uma pessoa bem equilibrada, sabe? – eles riram. – Brincadeira, a gente tava indo pra sala, eu puxei o braço dela e ela caiu e cortou a mão. Daí a gente foi lá lavar a mão dela e pegar esse gelo, e não deu mais tempo de entrar na aula.

- Que feio, ficando fora da sala! – Lucas zombou.

- Olha só quem fala! – Marina retrucou.

- É, faz parte. – Lucas tentou se defender.

- A gente pode ficar aqui com você, Lucas? – Patrícia perguntou, sorrindo maliciosamente para Marina.

- Meu Deus, o Lucas tem mel! – Eduardo disse, olhando para as meninas e, esfregando a mão no braço de Lucas, continuou – Me dá um pouco desse mel, cara!

- Sai cara! – Lucas se afastou, brincando.

- Ai gente, ela machucou a mão. Vem aqui, senta aqui do meu lado que eu cuido da sua mão pra você! – disse Eduardo, batendo a mão no espaço vazio ao seu lado, convidando Marina. Ela fez uma cara de medo e deu um passo pra trás, brincando. Lucas se levantou.

- Não é assim que se chega numa menina, Eduardo, é assim ó. – Lucas foi andando até Marina, a cada passo que ele dava em direção a ela, ela dava um passo para trás, até que alcançou a grama, andando de costas, e não podia mais sequer dar um passo, pois havia um grande degrau. Foi onde Lucas continuou em direção a ela, e aproximou bem os seus rostos. Marina ficou sem reação, um pouco assustada, um pouco admirada, mas olhando em seus olhos, involuntariamente foi para trás e Lucas segurou em seu braço para que não caísse, o que os aproximou um pouco mais. Ele a puxou pra perto e a soltou, voltando a se sentar ao lado de seu amigo.

- Viu como é que faz? – perguntou ele a Eduardo.

- Tenho muito que aprender com você ainda! – zombou ele.

“Mais uma dessa e eu tenho um infarto!”, pensou Marina. O corte na mão dela deixou uma cicatriz, que não é só a lembrança de mais uma queda, mas também é a lembrança de uma situação um tanto quanto divertida que ela viveu com Lucas.

A professora Ge, de Português, não deixou passar em branco a ausência de Lucas e Eduardo, bem como a de Marina e Patrícia, o que era uma novidade, já que elas nunca haviam ficado fora de sala, e comunicou à inspetora, pedindo que os achasse e levasse à coordenação. Joana, a inspetora, logo apareceu na quadra chamando por eles, e os levou à coordenação, como a professora havia pedido. A pedagoga, Luisa, era bem compreensiva, e as meninas lhe explicaram o porquê de não estarem na sala, e mesmo questionando o fato de Patrícia não ser nenhuma médica e Marina não estar mutilada, aconselhou que entrassem na sala assim que tocasse o sinal para o início da última aula, caso a professora não deixasse, ela conversaria pessoalmente com ela. Já com Lucas e Eduardo foi diferente, pelo fato de eles estarem sempre faltando às aulas, e pediu que eles a esperassem, enquanto ela levava as meninas à sua sala, pois teriam uma séria conversa. Marina ficou preocupada com Lucas ao ouvir isso.



"Se não fossem vocês, certeza que eu já teria parado de escrever há muito tempo. É o carinho e a atenção de vocês que me faz continuar. Não está sendo fácil, mas eu vou continuar e no final vocês vão saber e vão entender como é difícil pra mim estar escrevendo cada linha por vocês lida. Muito obrigada mesmo. E comentem! Quarta-feira que vem tem mais um capítulo. Beijos!"



- Memórias de um passado que não é real. (♪)